terça-feira, 7 de agosto de 2007

Meu Compadre


Meu compadre, meu amigo
Estou indo lhe ver amanhã bem cedo
Quero lhe dizer que estou com saudades do teu olhar cansado e sereno
E quando eu estiver do seu lado esqueçamos as guerras, a fome e a miséria
Entrarei no quarto e verei seu corpo deitado na cama, teso e puro
Descansarei meu olhar tranquilo sobre ti e sorrirás
Como sorristes varias vezes seguidas caçoando da vida e planejando cada jogada
Com teu sorriso sacana como se perguntasse “ Que cara de velho é essa?”
Eu olharei timído com minha cara de velho, realmente velho.
Não há nada que se diga com palavras e se escreva nesse papel que possa demonstrar o que sinto. E o que sinto é carinho.

Carinho é xadrez com certezas de ganho, é mel de abelha em favos cobertos de luz.
Carinho é o pôr-do-sol nas crianças lambuzadas de creme
É uma praia de areias brancas e montanhas verdes até onde a vista pode alcançar
É estar desnudo contra as ondas do mar enfrentando Netuno
E sentir uma alma solene se aproximando e com toda a certeza do coração saber que
A Morte é o toque de um Deus no ombro,
Caronte revestido de ouro com dentes de pantera, se antes de mim levares o óbulo ao barqueiro sombrio lembra-te que serei o estrangeiro em casa.
Olhando para os meus pés com as mãos cruzadas, segurando meu folégo embaixo do sobretudo naquele quarto vazio lhe pedirei encarecidamente.
Diga para Caronte que estou chegando. Será uma festa.

THIAGO MANZO


Poesia criada em homenagem a amizade inabalavel entre dois amigos inseparáveis desde a infância sendo eles: meu pai e meu tio. A Separação que agora ocorre é apenas física.

Um comentário:

Anônimo disse...

Comecei a ler e não parei mais... eis que dou de cara com esse texto que logo no começo sabia que tinha a ver com meu pai. Fiquei emocionada e feliz. Obrigada por essa homenagem tão sublime. Vou publicar no meu blog.
bjo querido.