
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
Mexe Mexe no Buraco - II O Sólido Rei de Paus

quarta-feira, 15 de agosto de 2007
Ode à Terra ( palavras recusadas )

É preciso reformar a estrutura e partir a caixa óssea
É preciso ter Amor e Amar assim mesmo.
É preciso mudar daqui e ter que partir de lá.
É preciso ter outras pessoas, outras faces em outros lugares.
Outros autodidatas. Pindoramas Brasiliens Imigratorium.
Ser a autofagia psicográfica da minha nação.
Ser a mãe de portugueses, italianos, franceses e tio do alemão.
Ser os corpos firmes e robustos, sem anexos e com braços extendidos Amorenados ou “mignons” que rasgam o Oceano.
É preciso ser o ladrão de serenatas em noites quentes.
É preciso ser Real, vindo do Cruzeiro do Sul.
"Io , che soffre al petto, come in primo piano,
Per piani e per monti, col petto ansante."
É preciso ser o cavalo vermelho sem rédeas brancas
É preciso ser o garoto de peito nu e cabelo ao vento que parte o céu de Encontro a água.
É partir a cabeça de chegada a pedra e teu sangue misto co’a água e ser realmente um com a Terra.
Ser realmente um Homem longe dos campos de Olympia.
Ser realmente um Brasileiro.
THIAGO MANZO
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
Eramos Algo Meio Tosco

Feio como as calhas de um azul esbranquiçado escorrendo as borras sob uma lua de
Aquele torque que nos dizimava por inércia, aquela força animalesca, a supra feiúra do que
O pomo de Adão dos Bebados, e, selvagens como uma figura sem uma parte da cabeça,
A risada do padre com a sarna viva enlouquecedora trazendo a Boa Nova.
Eramos a fratura exposta da Lapa sem anestesia, alcalóide, prostitutos com peitos, e veias [artisticas. E daí se infeccionar?
Meu tio se balançando na cadeira enfiando dois gomos de mexerica olhando papai se Automutilar com um prego escondido no barro, o sangue à correr, o branco do rosto tão
os passos da escada perto da cozinha e Anália já pronta pro baile escondendo na polaina,
Nós que aqui estamos por vós esperamos.
quarta-feira, 8 de agosto de 2007
Eu gosto

Eu gosto de cheiro de grama molhada.
De chuva batendo em telha de barro.
Do cheiro de café passado que empesteia a casa.
De tomar banho quente e se enrolar em toalhas quentes numa noite fria.
Ficar debaixo do cobertor junto quem eu amo amando.
De comer pizza de mussarela com mostarda e ketchup.
De pirulito que deixa a língua azul.
De dormir tard e acordar tarde quando não tenho que acordar cedo.
De acordar cedo quando não tenho que acordar cedo.
De rosas vermelhas enfiadas em baionetas.
De corpos enfileirados na lama cobertos de cal.
Eu gosto de perfume de mulher grudado na roupa, nas mãos, no corpo.
De ser torturado e ficar sem roupa, sem mãos, sem corpo.
Do cheiro da maresia enquanto eu assisto o pôr-do-sol.
De ser acordado com ducha fria no nascer do sol.
De comer pão com manteiga derretida só porque o pãozinho tá quentinho.
De passar fome e lamber latas de lixo pra sentir o gosto da podridão.
De dinheiro sujo e panacas esperando com as manoplas estendidas.
De judeus servidos no Natal.
De corredores da morte e o suave clima da tensão.
De bombardeios em pequenas vilas.
De tiranos, ditadores, opressores, capitalistas e forjadores de óbitos.
De crianças estupradas na frente dos pais.
De índios presos, queimados e roubados de seu próprio país.
De raptos, seqüestros, sonegações, chantagens e humilhações;
De desemprego, pobreza, injustiça, calamidades e misérias.
De receber meus inimigos na minha casa.
Eu gosto da Esperança, uma velha amiga que já não vejo faz muito tempo e só de saber que vou morrer antes dela, já me alegra e isso eu gosto.
Eu gosto.
Ponto final.
terça-feira, 7 de agosto de 2007
Meu Compadre

Meu compadre, meu amigo
Estou indo lhe ver amanhã bem cedo
Quero lhe dizer que estou com saudades do teu olhar cansado e sereno
E quando eu estiver do seu lado esqueçamos as guerras, a fome e a miséria
Entrarei no quarto e verei seu corpo deitado na cama, teso e puro
Descansarei meu olhar tranquilo sobre ti e sorrirás
Como sorristes varias vezes seguidas caçoando da vida e planejando cada jogada
Com teu sorriso sacana como se perguntasse “ Que cara de velho é essa?”
Eu olharei timído com minha cara de velho, realmente velho.
Não há nada que se diga com palavras e se escreva nesse papel que possa demonstrar o que sinto. E o que sinto é carinho.
Carinho é xadrez com certezas de ganho, é mel de abelha em favos cobertos de luz.
Carinho é o pôr-do-sol nas crianças lambuzadas de creme
É uma praia de areias brancas e montanhas verdes até onde a vista pode alcançar
É estar desnudo contra as ondas do mar enfrentando Netuno
E sentir uma alma solene se aproximando e com toda a certeza do coração saber que
A Morte é o toque de um Deus no ombro,
Caronte revestido de ouro com dentes de pantera, se antes de mim levares o óbulo ao barqueiro sombrio lembra-te que serei o estrangeiro em casa.
Olhando para os meus pés com as mãos cruzadas, segurando meu folégo embaixo do sobretudo naquele quarto vazio lhe pedirei encarecidamente.
Diga para Caronte que estou chegando. Será uma festa.
THIAGO MANZO
Poesia criada em homenagem a amizade inabalavel entre dois amigos inseparáveis desde a infância sendo eles: meu pai e meu tio. A Separação que agora ocorre é apenas física.
The Day That Will Never Come
